26 fevereiro, 2011

Espera (2)






Quem espera sempre alcança. Estávamos nós a esperar, tranquilos da vida e distraídos pela abundância de tranquilidade, quando o vento que passava nos trouxe notícias da nossa metrópole. Um acontecimento acontecia por obra e engenho do ex-presidente da Junta e cabeça de lista da lista mais votada nas últimas eleições autárquicas, José Maria Taipa por baptismo e registo civil, infatigável e inimitável ao volante da autarquia, um veículo pouco conhecido em Freamunde, que para quebrar a monotonia em que o povo da metrópole vive, muito dele sem saber a que terra pertence, decidiu convocar uma reunião, com os caciques locais, para comemorar um acontecimento que um estrangeiro de Modelos produziu, a custas próprias, há 10 anos.  

O acto em si, de bondoso reconhecimento pelo contributo de gente de outras paragens para o progresso de Freamunde, é digno de cinco minutos de palmas.

É bom que a incapacidade local seja auxiliada por beneméritos.

A nossa humildade sensibiliza corações e consciências, de outro modo não seríamos notados por gente de fora de Freamunde que vem em nosso auxílio, apontar-nos o caminho.

Temos o título de cidade, porque alguém se lembrou de nós e veio fazer-nos o trabalho. Reconhecê-lo e comemorá-lo é obrigação de todos nós. O problema é que não existe Junta nem Assembleia de Freguesia eleitas para produzir a pompa de aniversário tão redondinho.

Perante tão grande lacuna, José Maria Taipa não tem dúvidas e, contrariando o seu espírito democrático, que muitas dores lhe deve ter causado, avança com a afoiteza do guerreiro contra a lei e as normas de comportamento cívico para a mobilização das forças vivas(?) da terra, em repouso há longos anos, provavelmente com as articulações desarticuladas e enferrujadas, para colaborarem na grandiosidade da efeméride, que ele pretende maior que as Sebastianas.

Não vai conseguir, mas tenta.

Por acto tão valoroso, está perdoado por continuar o mandato de uma junta que já não existe, que terminou em Outubro de 2009. 

Quando a oposição atrapalha, José Maria Taipa não olha a meios e avança intrepidamente para a sua especialidade, naquilo em que é o maior: comemorações. O povo gosta de festa, de feijoada, de porco no espeto, de tinto e de branco. O auto-proclamado presidente não esquecerá o estômago daqueles que lhe oferecem as palmas, prova inequívoca da sua ascendência romana. Pão e circo bastam para satisfazer a plebe.

Estávamos a zero e de repente temos um acontecimento de arromba. José Maria Taipa só falhou num acto: não ter sido ele a promover Freamunde a cidade. Caso a lembrança lhe tivesse visitado a mente, em devido tempo, nesta data feliz ser-lhe-ia aposta a coroa de louros no momento áureo das comemorações. A populaça iria rastejar de gozo e babar o chão de mucosidade para melhor chegar a seus pés. A glória suprema esteve por um triz. Perdemos um imperador por um pentelho, mas ganhamos um autarca a todo o custo.

Como versejava a velha cantiga folclórica, temos tudo como no Porto. Em Freamunde nada falta.

Como cidade chegou a hora de distribuirmos as sobras pelos mais necessitados. O nosso autarca a todo o custo capricha na benemerência. As freguesias vizinhas irão beneficiar do nosso progresso e bem-estar. A adesão a Freamunde irá ser total. Vai ser inevitável a constituição do concelho de Freamunde. O nosso autarca a todo o custo dar-nos-á mais essa alegria. Ele existe para nos dar alegrias.

Freamunde Livre

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