Salazar impunha então, por detrás de uma fachada católica, a unidade na servidão e a feroz exploração dos trabalhadores.
Era a consagração de uma igreja fascista apoiante de um capitalismo selvagem.
Enriquecer exigia dominar, fazer trabalhar de sol a sol, cortar nos salários, impor ao povo a cedência dos seus direitos.
Rezar significava resignação e impotência fatalista.
Ignorância era o elo mais forte das grilhetas que manietavam o povo e o sujeitavam à tirania dos poderosos.
Estaremos a um passo do regresso a esta situação?
Há indícios seguros que sim. A visita oficial de Bento XVI é a prova provada de que a Igreja institucional despe a capa da santidade e adere de alma e coração às políticas reaccionárias que conduzem o nosso povo à miséria e ao cataclismo final. A Igreja continua a desempenhar o seu papel histórico de «ópio do povo».
Os «milagres» de Fátima
Desde sempre, os «mistérios» de Fátima foram a par com a ascensão do fascismo. A chamada Aparição da Senhora «mais branca do que o Sol» serviu-se da construção de um mito para transmitir aos povos uma mensagem política altamente reaccionária: pedido de consagração da Rússia bolchevique, visão do inferno, do «sofrimento» dos papas e dos povos causado pelo ateísmo militante. Para responderem positivamente às invocações de Maria, os crentes deviam colocar-se à margem das reivindicações, obedecendo às palavras de ordem celestiais de «penitência» e «oração» (rezas à Santíssima Trindade, ao Imaculado Coração de Maria, ao desfiar do terço, etc.).
Segundo os textos da Igreja portuguesa, campeava então em Portugal a fúria maçónica e jacobina e a Igreja sofria...
Na Rússia, triunfava o comunismo marxista .
Então, reza a doutrina, «a fé removeu montanhas», esses riscos foram debelados e a influência divina reposta. A Igreja reafirmou-se apolítica: o Mistério e o Sacramento não se imiscuem nos negócios humanos: contemplam e rezam. O que não impediu o Vaticano de se revelar como o mais poderoso baluarte do capitalismo.
Agora, em plena crise capitalista e certamente pressionado pela presente situação catastrófica da economia e pelos estrondosos insucessos da «globalização», o astuto Ratzinger entrou em contradição com a solidez da lógica teológica católica. A teologia eclesial regista que a Igreja está no mundo para evangelizar. A sua missão é divina e intemporal. Não é política, financeira, nem sequer economicista.
Mas em Lisboa, de visita a Portugal, o Papa, certamente pressionado pelas dimensões da crise e pelos negócios em curso entre o Estado português e o Vaticano, mudou de ideias e apelou à intervenção activa dos católicos em áreas como «a família, a cultura, a economia e a política», delegando no cardeal-patriarca português o cuidado de tranquilizar os potenciais concorrentes: «Não tiraremos o lugar a ninguém»... Tudo paleio de comerciantes.
A etapa histórica em que estamos rapidamente a entrar é de colisão frontal entre os interesses instalados. Não sobra muito o espaço para cortesias. Só uma via transforma a sociedade e constrói o futuro: a da luta de classes. É esta a perspectiva que o eixo igreja/capital procuram a todo o custo eliminar.
Entre os trabalhadores sobe de nível a consciência de que assim é. Só uma política pode responder à progressiva violência cometida pelo grande capital contra a força dos trabalhadores: cerrar fileiras, lutar, resistir e vencer!
Jorge Messias
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