09 julho, 2010

Da necessidade de mudança de poder em Freamunde




Para que não sobrem dúvidas a quem é capaz de as produzir em excesso, definamos o que é o poder, em Freamunde, agora. Para a análise que nos interessa fazer, o ponto de vista sociológico do Poder Público é o que escolhemos para este trabalho crítico pela sua incidência directa sobre a actual situação autárquica de Freamunde.

Uma autarquia é um pequeníssimo Estado dentro do Estado. O presidente da Câmara é o equivalente ao Primeiro-Ministro e o presidente de Junta é o equivalente ao presidente de Câmara. O código de conduta é o mesmo para todos eles. Todos agem da mesma forma, todos assumem o autoritarismo – velado ou descarado - todos se acham donos do território, todos estabelecem uma rede de cumplicidades políticas, sociais e particulares que suportam a sua acção em troca de um bodo de benefícios.

Quem estiver ligado ao Poder lucra sempre.

Até o eleitor ignorante, ou sabujo - há os dois invertebrados - no anonimato do voto, supõem tirar benefícios de o oferecer ao Poder instalado. Esta ralé perigosa, viscosa, camaleónica é capaz de dar cabo de um país, de um concelho, de uma freguesia, mas temos de conviver com ela e aguentar-lhe os estragos, que custam o trabalho de gerações, até conseguirmos anulá-la.

O Poder Público defende os interesses da minoria exploradora da sociedade e é exercido por indivíduos que fazem do governar uma profissão.

São atributos materiais do Poder Público os Tribunais, o Fisco, as Prisões, a Polícia, o Exército e outras instituições coercivas que nos obrigam à obediência das suas leis.

Uma infernal máquina burocrática e policial reduz-nos a fantoches.

O Estado separa-se do povo e escava um abismo entre ele e a sociedade. Só um louco é que se pode dizer protegido pelo Estado. Todos nós, comuns mortais, sentimos as garras do Estado no nosso pescoço a apertar, a apertar, a asfixiar-nos com impostos e incertas condições de vida. Esta agressão acontece, porque o Estado não é nosso, o Estado é deles, da suinaria que só se sente feliz a chafurdar no dinheiro extorquido ao povo.

Estas poucas considerações sobre o poder bastam para a análise da actual situação política de Freamunde. Para os leitores menos informados, Freamunde ficou sem Junta a 11 de Outubro de 2009. Um desacordo entre os partidos para a constituição da nova Junta resultante das eleições realizadas nessa data, agravado por uma lei autárquica lunática que não serve a gregos nem a troianos, mas que tem a virtude de demonstrar que duzentos e muitos deputados andam a roubar a nação há dezenas de anos, permite que o eleito da lista mais votada esteja, sozinho, em funções por todo o mandato.

A quadrilha de partidos que tem ocupado a Assembleia da República ainda não teve tempo para apontar em metade de um A4 as correcções a uma lei que só tem causado problemas e contribuído com 75% para a corrupção nacional.

Entupir a boca aos fala-baratos da Assembleia com um artefacto das Caldas é uma necessidade, para que o palanfrório fique em represa e as mãos amestradas no gesto inútil comecem a trabalhar, operariamente, com a esferográfica ou o moderno “portátil a “bem da nação”, como gostava de dizer o defunto beirão de má memória.

Nesta condição de impasse, se o presidente eleito for um democrata de sangue e espírito compreende o aleijão da lei e demite-se para permitir novas eleições. Muito longe desta atitude, José Maria Taipa afoita-se ao mar para uma travessia solitária do mandato em jangada feita de poda de plátanos, sazonalmente abundante em frente à sede provisória da Junta.

Está legal, sem dúvida, mas sem ética democrática. Há leis que não estão escritas, que derivam da consciência social e que valem mais que todas as outras. Se há uma lei da república que beneficia só uma pessoa, não pode ser democrática. Verificada a sua parcialidade, há que rejeitá-la, devolvê-la aos marmelos que a venderam com a anotação: “material antigo, fora de prazo, impróprio para consumo”.

O poder, em Freamunde, afastou-se da população há longos anos e hoje ainda mais. A estagnação de que enferma a cidade e a inexistência de objectivos e de planos para o seu desenvolvimento deve-se à separação da autarquia das pessoas. O povo sente que a autarquia não é sua, mas deles.

Deles quem?

Do PSD. Este partido apoderou-se de Freamunde desde a Junta até às associações. Manda em tudo, tomou a cidade e assenhoreou-se do destino de todos os freamundenses. Como exemplo, observe-se o S. C. Freamunde a olho nu, nem é preciso aparelho de radioscopia para se ver a promiscuidade politico-desportiva. É assim por todo o lado. Uma maré laranja que destrói a vida local, a sua diversidade, a sua evolução.

As consequências nefastas deste domínio manifestam-se nas patologias sociais e políticas normais destas circunstâncias: favoritismo, clientela partidária oportunista, apatia social, medo político, subserviência, subdesenvolvimento, desmembramento da coesão social, perda de identidade cultural, ausência de discurso crítico, isolamento das pessoas na abordagem política, etc. O PSD sabe, e nisto é mestre, que para reinar à tripa forra há dois princípios infalíveis: dividir as pessoas e infundir-lhes medo. Freamunde é o exemplo perfeito, universal da aplicação destes princípios com uma eficácia de cem por cento.

Parabéns, PSD!

Se os resultados partidários merecem foguetório, os resultados políticos autárquicos gritam pelo INEM numa urgência de vida ou morte.

O êxito do PSD funda-se na narcotização dos partidos opositores, que até às eleições de Outubro foram os anjinhos figurantes de uma procissão que o tinha no cimo do andor principal, enflorado com profusão barroca, como é uso nas aldeias dos simples, dos puros, daqueles que não conhecem letra e se encantam com a palavra misteriosa ofertada nas ondulações hipnóticas da harmonia da fala.

Os freamundenses foram levados na cantiga e estão desgraçados.

A mudança de poder, em Freamunde, ultrapassa o conceito de necessidade e desloca-se à velocidade da luz para o conceito de obrigatoriedade, próprio das situações de catástrofe. Excepcionalmente, a oposição está a mexer-se mais que o costume. Esta atitude acende uma luz ao fundo do túnel. Muitos já começam a acreditar que a liberdade é possível, que a mudança idealizada está a rebentar em corpo novo, que a cidade tribal vai ser transformada em cidade moderna, que os freamundenses vão começar a ser vistos como gente, que a recuperação de um atraso de décadas vai ser tarefa que o povo vai assinar com suor e cumprir com dignidade e bairrismo.

A mudança de poder, em Freamunde, no presente, determinará o destino desta terra futuro além. Há esperanças acesas no peito de milhares de freamundenses numa vida melhor, no direito à felicidade na cidade onde nasceram ou onde moram, na criação de uma plataforma local de comunicação e relação com o mundo. A oposição tem sobre si a responsabilidade de viabilizar a esperança e de abolir as portagens que o PSD instalou na estrada da posteridade das gentes de Freamunde.

A oposição tem olhos, a oposição tem ouvidos, a oposição tem boca, a oposição tem mãos. A oposição não pode ignorar, a oposição não pode calar, a oposição não pode deixar de fazer.

A oposição tem a responsabilidade moral e política de mudar Freamunde. Façam o que têm a fazer. Se os partidos não são capazes, o povo independente é. Assim, como está, não pode continuar!

ORM / TP

4 comentários:

  1. Ao cuidado do administrador deste blogue:

    Foi isto que o seu tao querido 25 de Abril produziu caro amigo ?

    Vou citar V.Exa. :
    " Quem estiver ligado ao poder lucra sempre "
    " O Poder Público defende os interesses da minoria exploradora da sociedade e é exercido por indivíduos que fazem do governar uma profissão "
    " Uma infernal máquina burocrática e policial reduz-nos a fantoches"
    " Estado não é nosso, o Estado é deles, da suinaria que só se sente feliz a chafurdar no dinheiro extorquido ao povo"
    " Entupir a boca aos fala-baratos da Assembleia com um artefacto das Caldas é uma necessidade, para que o palanfrório fique em represa e as mãos amestradas no gesto inútil comecem a trabalhar, operariamente, com a esferográfica ou o moderno “portátil a “bem da nação”, como gostava de dizer o defunto beirão de má memória"

    V.Exa pensa mesmo isto da democracia que tanto bajula ?

    Faltou apenas escrever que a anarquia reina na ignorancia e ja passaram 36 anos da revolucao dos cravos.

    ESTA NA ALTURA DE RETIRAR DESTE BLOGUE O SEU POST SOBRE " O SR. DA BEIRA ", PEDIR-LHE DESCULPA, POIS ELE COMPARADO COM OS FARSOLAS QUE NOS GOVERNAM ERA UM MENINO DE CORO.

    FAZER UM MEACULPA VAI SERVIR PARA V.EXA. DORMIR MELHOR.

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  2. De anónimo para anónimo:
    Pode-se não gostar do mensageiro ou até do seu "estilo", mas se não se estiver infectado de "salazarismo" terá de se estar de acordo com a mensagem.

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  3. Pedimos desculpa ao comentador anónimo que fez um comentário referenciando o nome de uma pessoa pela eliminação do comentário. Há algum tempo atrás estabelecemos como regra deste blogue que os comentários que referissem nomes de pessoas só seriam aceites com identificação do seu autor. Esta regra destina-se a proteger o nome de qualquer cidadão e a conferir-lhe o direito de resposta ou defesa. Conquanto o comentário em questão fosse elogioso e inofensivo, regras são regras e não podemos abrir excepções. Estamos cientes de que compreende e aceita a decisão.

    Os nossos cumprimentos

    Freamunde Livre

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