Festas Sebastianas, festas populares

As Festas Sebastianas são o maior acontecimento anual de Freamunde.

São um trabalho colectivo exemplar. As Comissões de Festas funcionam bem. Realizam sempre os seus objectivos, fazem história ano após ano. Nenhuma outra instituição de Freamunde apresenta um trabalho tão diversificado e de tão complexa realização. Inacreditável como é possível tão grandioso feito com Comissões que se revezam integralmente todos os anos.

Qual o segredo deste milagre?

Festas Sebastianas.

É este o segredo, não há nenhum outro. As Festas Sebastianas são o maior e quase único refúgio da alma freamundense. Em nenhuma outra instituição as características extrovertidas, festivas e hospitaleiras do povo de Freamunde, nascidas em tempos tão recuados que o tempo já lhes perdeu a memória, estão tão vivas e actuantes. As Sebastianas são uma instituição de 24 quilates, iguais a um diamante da máxima pureza. Sem elas, Freamunde chegaria ao fim da sua história. O que restasse seria apenas arqueologia.

A primeira e maior lição que as “Sebastianas” nos dá é de unidade. Freamundenses crentes e ateus e de todas as ideologias políticas trabalham em prol de um objectivo comum, realizam uma obra gigantesca em apenas um ano, nas horas vagas.

 Temos aqui o exemplo perfeito de funcionamento para a autarquia. Uma Junta de freamundenses diversos, tendo por único objectivo o desenvolvimento da terra e não os interesses pessoais e partidários.

Esta lição ensina-nos que uma lista independente de freamundenses com o mesmo espírito das comissões das “Sebastianas” é possível e seria o óptimo para o próximo mandato. Enquanto os partidos não forem arredados da autarquia não haverá solução para a montanha de problemas que existe para resolver e o progresso será nulo e a pender para o negativo.

É a esta instituição nobre de Freamunde, que prescreve aos seus responsáveis um árduo trabalho e uma enorme responsabilidade, que as Juntas geridas pelo PSD têm criado algumas dificuldades.

Há alguns anos atrás, alguém do PSD lembrou-se que os leilões das Festas deviam ser escondidos para que as pessoas de fora que aqui viessem ou em trânsito por aqui não assistissem ao espectáculo parolo e aldeão dos leilões de oferendas.

Um evento popular de imemorial tradição é para o PSD uma vergonha, um sinal de atraso cultural e urbano.

Por tais perversidades, deveria ser arredado do centro cívico, figura em esferovite da retórica laranja que não significa nada, referente ao centro urbano de Freamunde.

A contragosto, a Junta escorraçou os leilões para uns quelhos, pois seria mais do seu agrado mandá-los para as freguesias vizinhas de Figueiras ou São João de Covas que considera possuírem maior ruralidade que Freamunde e onde a sua realização não destoaria dos habitantes e das maiores áreas florestais e agrícolas.

Não proibiu os eventos, o que seria totalmente do seu agrado, porque, como popularmente se diz, tem um buraco no fundo das costas, dito noutra versão, quem tem cu tem medo, atributo psicossomático preventivo de ousadias causadoras de danos corporais do género traumático. Não fosse este atributo, os leilões já não eram vistos nem lembrados por estas bandas. 

Desconhece-se como é que estes cérebros engendram tais ideias, no entanto, presume-se que é por snobismo no que esta tara burguesa tem de balofo e obtuso.

A aparência é tudo.

No caso em análise, a cultura popular, os meios de cooperação e de participação social nos eventos colectivos tornam-se vergonhosos por revelarem uma colecta pública para o custeio da sua realização.

As Festas fazem-se à custa do povo e com o povo, entidade que a burguesada do PSD detesta. Que o povo pague as Festas não o incomoda, pelo contrário, mas que não se veja. É isto que interessa ao PSD, que não se veja.

Para confirmação do pouco que se disse e do muito que haveria para dizer sobre este assunto, as Sebastianas 2010 realizaram no passado dia 20 de Junho o seu último leilão. Na certeza de que iria ser um grande leilão, com uma grande afluência de pessoas, a Comissão solicitou a sua excelência, o senhor presidente da Junta de Freamunde, autorização para o realizar em local mais amplo e apropriado à sua concentração humana.

A diligência saiu frustrada.

No pensamento do PSD, Freamunde não é uma terra de parolos onde se fazem leilões “à moda antiga” para angariação de fundos para a feitura das Festas. No pensamento do PSD Freamunde não existe como terra de gente que transforma tábuas em móveis, ferro em máquinas, tecidos em roupa, ramadas em vinho, campos em milho, quintais em alfaces, tomates, cebolas, batatas… de gente que trabalha e sofre e vibra e ama e é solidária e abre as portas da sua casa a todo o mundo.

Para o PSD, Freamunde é uma terra de gente fina, esplendorosa, ilustrada, superior, que não rompe os dedos em contacto com a matéria áspera, que tem fronteira vigiada entre a nata social (eles) e a bicharada obreira (os outros).

Este Freamunde não existe, é falso e só tem representação no delírio mental de um partido incompatibilizado com a realidade. Quando se colocam restrições à maior instituição de Freamunde na sua heróica acção de promoção da cidade e na defesa e preservação das tradições locais, está-se a estrangular a terra com barbaridade.

Ante tal atentado, é caso para perguntar: - E se o presidente da Junta em vez de andar a gozar com as Sebastianas, fosse gozar com a sua tia, como pôs na moda o nosso inefável Primeiro-Ministro?

ORM / TP