Esmola de junta não mata a fome a freguês

O Artigo 3 das Convenções de Genebra proíbe, sempre e em toda a parte, entre outros atentados, “Os atentados contra a dignidade das pessoas, nomeadamente os tratamentos humilhantes e degradantes.”

A esmola é um atentado contra a dignidade das pessoas e uma humilhação social.

Existem pobres, porque existem ricos. A distribuição dos bens da produção social sofre de milenar injustiça. Na actualidade, em Portugal, uns poucos ficam com dois terços dessa produção social e os restantes, que são muitos e contam-se na casa dos milhões, ficam com um terço.

Não chega.

Com distribuição tão avara, a miséria entra pela porta dentro destas multidões, degrada-lhes a vida, mata-lhes a dignidade.

É assim que o sistema capitalista funciona. Dá as rédeas e o chicote da economia aos endinheirados para conduzirem e subjugarem os assalariados como animais domesticados.

Os trabalhadores são, efectivamente, para o sistema, animais domesticados e de préstimo variável ou nulo. Na óptica capitalista ganham mais do que merecem, não têm competência profissional, não produzem, dão prejuízos, são estúpidos, vão muitas vezes à retrete, não gostam de trabalhar, querem férias, subsídios e dão-se à preguiça aos sábados, domingos, feriados e dias santos. Uns ociosos. Para cúmulo, atrevem-se ao desaforo de pedirem aumentos de salário. Uma canalha perdulária que precisa de cortes na ração para aprender a poupar. Precisam de voltar ao tempo das doze horas de trabalho diárias, de segunda a sábado, para perderem vícios malandros e adquirirem a virtude do trabalho e a honestidade da vida simples no amor da família, no cumprimento dos deveres religiosos e na obediência às leis da mãe pátria, que é quem sabe o que é melhor para os seus filhos

O capitalismo, em regime democrático ou fascista é exactamente igual. Num ou noutro regime, a miséria de amplas camadas da população é uma constante. Se actualmente e em comparação com os tempos fascistas há algumas melhorias, resultam do desenvolvimento tecnológico e das lojas chinesas que vendem de tudo a 1€.

O período fascista, por comparação com os tempos anteriores, também ofereceu vantagens. O progresso faz-se independentemente da vontade humana. Esta linha inelutável da ascensão humana garante-nos que a sociedade atingirá um nível superior. Se é de aqui a uma década, um século, um milénio ninguém poderá responder. Mas também ninguém poderá impedir que isso aconteça. 

O capitalismo é a exploração das multidões a favor dos especuladores. Abarrota de riqueza algumas famílias, submerge na miséria a maioria da humanidade.

A esmola transformou-se, nestas condições, numa instituição hipócrita do sistema para submeter os pobres à pobreza eterna e à obediência incontestável aos senhores do dinheiro.

Quanto mais pobre mais obediente.

O corpo do pobre sofre profunda metamorfose e fica reduzido a uma boca que se abre, ávida de sobrevivência. O pobre, no extremo, perde a personalidade humana e recua ao comportamento irracional, transforma-se em cão, lambe quem lhe dá de comer e morde em quem se aproxima do seu protector.

É isto que o PSD quer instituir em Freamunde.

Psicólogos são eles, mas a ciência, e muito mais a do espírito, exige ética acima de todos os comportamentos de conveniência pessoal e partidária. Também é exigida ética social, conjunto normativo dos valores morais que dirigem a vida em sociedade. O PSD não possui fontes que lhe garantam qualquer provimento ético na sua acção política, portanto, não pode, de raiz, resolver qualquer problema social.

A recente caminhada promovida pela Junta de Freamunde para a recolha de donativos para distribuição pelos pobres é um acto de monstruosa demagogia e humilhação social.

Humanitário é as pessoas despojarem-se dos bens próprios em favor dos necessitados, não é sacar dos outros e levar-lhes a esmola como dádiva pessoal.

O que a Junta e seu responsável deviam fazer era tirar do próprio bolso e enviar anonimamente a quem precisa. Mas esta fórmula fica cara e não dá votos. Em sua substituição, inventa-se uma mais barata e mais eficaz. Uma fórmula que isente o bolso pessoal e colha num lado para dar ao outro. Com uma fórmula destas passa-se a imagem de bondade ao dador e a imagem de generosidade ao esmolado. Vantagem dupla, que poderá ser tripla, como muitas vezes acontece nestas situações, se for decidido retirar uma percentagem do produto para compensação do esforço pessoal.

Quem se presta a estes papéis infames merece o lume da inquisição. Fazer da pobreza espectáculo público com os pobres como vedetas passivas da generosidade autárquica atira Maquiavel para aprendiz da velhacaria política.

Uma Junta que nas presentes circunstâncias não deve ir além da gestão dos assuntos correntes lembra-se de esmolar os pobres para promover a sua imagem com actos de caridade pública, tudo em vista às próximas eleições intercalares. Nem ao Diabo lembra.

A esmola não resolve a miséria, perpetua-a. A solidariedade social tem de assentar em soluções permanentes e de dignificação humana. Só há uma solução para a pobreza: o Estado Social.

Com o PSD, inimigo do Estado Social, a pobreza jamais deixará de existir. Com a Junta de Freamunde, os pobres não só continuam mais esfomeados, como dão grande jeito por constituírem um eleitorado fácil de convencer e arrebanhar.

Quem for burro que vá para pedreiro, dizem os finórios e oportunistas.

ORM / TP

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Uma pergunta ao "Pedaços de Nós":

Esta Associação promoveu, no passado sábado, uma homenagem à Prof. Cremilde Queirós. Por que razão a Mesa do acto foi presidida pelo Presidente da Câmara, ladeado pelo presidente da Junta, presidente das Festas e presidente do Pedaços de Nós?


A resposta é simples: o poder político-partidário do PSD já convenceu toda a gente de que é o presidente de todos os actos públicos. A seguir, vai convencer toda a gente de que é presença obrigatória em inaugurações de bombas de gasolina, em festas de aniversário, casamento, reuniões de família, etc. Nesta embalagem, qualquer dia reclama o direito à primeira noite com a noiva, como já foi imposição antiga.


Esta associação, repetindo mais situações destas, poderá começar a ser acusada de vassalagem ao poder político local.

A Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós promoveu a cerimónia. Nada mais simples e natural que sentar na Mesa a sua Direcção, obreira da homenagem. O poder autárquico se quer fotografias que as pague; se quer propaganda e promoção do produto, já possui um Gabinete para o efeito.


O concelho está transformado num museu de cera. Onde quer que vamos encontramos sempre as mesmas figuras. Arre! Que é de mais. Estamos a chegar à náusea!

Freamunde Livre