Em Freamunde, o acto eleitoral autárquico de Outubro de 2009 não produziu nova Junta. Discordâncias partidárias à parte, porque são legítimas, o arrastamento da constituição da Junta não pode chegar tão longe como chegou, tendo em conta que a freguesia sofre elevados prejuízos materiais e sociais com um impasse sem fim à vista.
Um ano depois das eleições, durante o qual decorreram as peripécias da praxe, o saldo de responsabilidade pela situação actual recai sobre o PSD e a CDU.
Ao PSD não se exigem grandes atitudes democráticas, impossíveis num partido ferrenho do neo-liberalismo, em linguagem mais popular, um partido que defende o poder sem lei do grande capital contra os trabalhadores e as classes médias, depenando-as como frangos a caminho do churrasco.
Se o PSD fosse um partido democrático, logo teria aceitado a representação proporcional na constituição da Junta como foi proposto pela oposição, e muita coisa já teria sido feita em favor da cidade. Assim, estamos como se vê, como aldeia do interior, escondida entre arvoredo e mato, onde nem bicicleta de pedal chega. Pedir um gesto democrático ao PSD é como pedir ao Diabo que beije a mão de Deus.
Se o PSD tem a desculpa da sua constituição genética não lhe permitir ligações com a democracia, o mesmo não se poderá dizer da CDU. A força política que se reclama do poder popular e do socialismo tem nas suas mãos a solução deste imbróglio e não mexe uma palha. Mistério profundo que a tecnologia não consegue resgatar das profundezas, tais elas são. Aliás a CDU, de há muitos anos para cá, é mais paleio que factos e o caso de Freamunde é um exemplo indesmentível disto mesmo, quer pela sua estagnação nos mínimos eleitorais, quer pela ausência de divulgação da mensagem e de trabalho político, trabalho que o PSD, não obstante ser o dono do território, não descura um segundo.
O concelho de Paços de Ferreira é tradicionalmente difícil para a esquerda, mas não é impossível à sua implantação. Há acontecimentos que demonstram a sua receptividade a políticas de alargado alcance social e de disponibilidade para a participação na actividade política local. Há quarenta anos, o concelho era um atraso de vida e sofria do atraso geral do país. Hoje, uma grande percentagem da população já possui capacidade intelectual para perceber as diferenças entre uma direita que a explora e uma esquerda que a defende. A direita que a explora conhecem-na bem. A esquerda que a defende, onde vê-la?
A força política que mais deveria apostar no poder local e na sua democratização, deixa a coisa correr em roda livre, talvez por os seus esforçados funcionários não disporem de tempo (ou será formação e vontade?) para acompanhar os eleitos e debater com eles as formas de integrar as populações na solução dos problemas locais. Não há democracia sem a participação popular no governo da sua cidade. A democracia circunscrita ao voto é uma vigarice capitalista. E de vigaristas está o mundo a ficar farto.
O comportamento da CDU, em Freamunde, está a ser politicamente incorrecto e suicida. A legitimidade para exigir disciplina partidária já a perdeu em consequência de anteriormente haver perdido a legitimidade política e moral ao tentar impor uma solução na Junta contrária aos sentimentos dos freamundenses. A CDU não cumpriu os seus deveres em Freamunde e colocou em estado de ansiedade os seus aderentes. Não a CDU em si mesma, que somos nós, o povo com sentir de esquerda, mas os seus dirigentes ocasionais que revelaram não possuir capacidades para os cargos que exercem e manifesta ausência de formação ideológica.
Nestas condições, a lista de candidatos da CDU, no interesse de Freamunde e para que seja solucionado o problema da inexistência de Junta o mais rapidamente possível, deve apresentar, no seu conjunto, a renúncia ao mandato na Assembleia de Freguesia.
Caso algum elemento da lista, com a sua não demissão, se disponibilize para o papel de viabilizar uma Junta PSD com o voto favorável ou abstenção, deverá informar, publicamente, se o faz em nome pessoal ou em representação da CDU.
O limite de tempo para resolver este problema já foi ultrapassado há muito. Exige-se sentido de responsabilidade política a todos os candidatos, que em defesa da sua dignidade pessoal, do seu conceito de sociedade e do seu bairrismo devem tomar nas próprias mãos a iniciativa da sua demissão.
No ponto em que está a situação, a CDU não tem qualquer ascendente político-partidário que lhe permita impor orientações aos elementos da lista. Nenhum candidato, neste momento, lhe deve qualquer obediência. O compromisso é com Freamunde e só há duas soluções para o problema, uma antidemocrática e traidora: a viabilização de uma Junta PSD; outra democrática: eleições intercalares. Apressar uma destas soluções é trabalho e preocupação para o imediato.
Desculpados que estão o PSD e o ex-presidente da junta, este desde Outubro de 2009 no papel de cabeça de lista da lista mais votada, por terem por Freamunde a mesma consideração que têm por um matagal, comportamento antigo e intrínseco às suas naturezas, agora confirmado por um ano de inoperância autárquica como quem abandona um campo à invasão dos codessos e ratazanas, comportamento afirmativo do seu desprezo pela terra e suas necessidades de desenvolvimento, condição que os exclui da solução do problema, compete, em exclusivo, aos elementos da lista de candidatos da CDU avançarem com a sua demissão e acabar com a pouca vergonha que se vive em Freamunde.
A CDU, em Freamunde, é os freamundenses que lhe dão o seu voto, não é os estranhos que vêem aqui, com soberba ignorância, dar lições sobre matéria que desconhecem. Nós, freamundenses, é que sabemos o que é correcto e incorrecto para a nossa terra. Fazer-nos de mentecaptos, e coarctar-nos a liberdade individual e colectiva são ofensas que repudiamos.
A CDU não é esta gente, a CDU somos nós. Limpar a nossa força política dos oportunistas e inúteis é mais uma tarefa que temos a cumprir. A luta é o nosso sangue, a nossa vida, agora em duas frentes de combate.
Preservar o ideal de uma sociedade justa, livre, fraterna sem usurários e esfomeados é encargo que estamos obrigados, pela nossa consciência social, a levar até ao fim.
Firmes no nosso ideal, no nosso desígnio de construção do socialismo, temos, no imediato, a tarefa de erradicar a direita do poder em Freamunde. O caminho para a realização desta tarefa é visível, mesmo em noite sem lua: eleições intercalares.
O que falta?
Demissão da lista de candidatos da CDU.
ORM / TP
Como é possível falar desta forma aos comunistas de Freamunde? Será que os comunistas que estiverem de acordo com as indicações da CDU Nacional e que tenham eles próprios essa vontade são traidores por viabilizarem a Junta? Que conceito de democracia é este?! Será que para ser democrata terá que se renunciar mesmo que não seja essa a sua vontade e a do partido? Não será por estas e por outras que o Sr Renato e os seus poucos seguidores são os grandes responsáveis pelo facto da CDU ter actualmente apenas cerca de 400 votos em Freamunde?
ResponderEliminarÓ senhor Renato: o senhor teve uma das piores votações de sempre da CDU em Freamunde; no mandato anterior traiu os seus eleitores ao demitir-se a meio do mandato; nas últimas eleições andou de café em café a tentar assinaturas para formar uma lista de independentes à Junta, borrifando-se, é o termo, para a CDU...
Que moral tem o senhor para falar dos elementos da CDU Nacional, Distrital e Concelhia, bem como dos elementos da lista que entenderem ser bom para a CDU e para Freamunde viabilizarem a Junta? Acredite que não são os seus exemplos e a sua postura, que farão da CDU, em Freamunde, o grande partido que já foi e que todos os verdadeiros comunistas esperam que volte a ser.
Não sei com quem estou a falar, ao contrário do meu interpelador que não teve pejo de me questionar anonimamente. Pessoalmente já constatei, há muito tempo, este lamentável comportamento extensivo à quase totalidade dos freamundenses que se pronunciam publicamente. Para este facto só vejo duas explicações: os opinantes não têm confiança nas suas opiniões e envergonham-se de lhe dar o nome, ou o clima político em Freamunde é fascista e as pessoas têm medo de dar a cara. Para a primeira condição existe o silêncio. Se a pessoa tem vergonha do que diz deve ficar calada. Para a segunda condição, se a pessoa não tem coragem de enfrentar os opressores, o remédio é o mesmo: silêncio.
ResponderEliminarEu, como não tenho medo dos opressores, embora saiba que são perigosos, pois já me atacaram à bomba, nem me envergonho das minhas posições políticas, dou sempre a cara no que faço e digo. A minha liberdade é a minha vida. Não concebo a existência física e social sem liberdade.
Politicamente sou comunista e só obedeço à minha consciência. A luta política no mundo actual é entre o capitalismo e o socialismo. A CDU, teoricamente, apresenta-se como socialista. A lógica de actuação e a coerência política impedem-lhe qualquer acordo político claro ou velado com as forças capitalistas. Infelizmente, parece que está a faltar ao Partido Comunista, a maior força da coligação, senso e firmeza ideológica. Há, sobretudo, uma notória contradição entre a teoria e a prática. O Partido Comunista transformou-se num partido de gabinete e preocupa-se demasiado com as estatísticas, deixando as realidades sociais a maninho. A péssima situação de Freamunde deve-se a um partido que apenas manda aqui os seus funcionários receber quotas e dar ordens aos militantes que considera acéfalos. A minha demissão do Partido Comunista, há mais de duas dezenas de anos, teve por motivo a interferência castradora do funcionalismo do Partido no trabalho local.
Não foram os funcionários do Partido que trabalharam politicamente Freamunde após a 25 de Abril. Fica a saber que as únicas pontas que o Partido Comunista tinha em Freamunde, na época, era eu e o meu irmão Rui, na altura a cumprir serviço militar em Lisboa. Quem assumiu a organização do Partido fui eu. Que poderia ter sido feito melhor trabalho, aceito, mas os resultados não foram completamente nulos. O partido Comunista venceu as primeiras eleições autárquicas realizadas após o 25 de Abril.
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Numa linha de firmeza e coerência ideológica é traição fazer qualquer acordo com o PSD e viabilizar-lhe uma Junta maioritária. O dever da CDU é afastar do poder este partido e nenhum comunista decente poderá dizer o contrário. A conciliação de classes, configurada no apoio à constituição da Junta PSD é uma facada no marxismo e uma imperdoável traição à luta pelos ideais do socialismo. Não pode haver tréguas com o inimigo capitalista, a luta é permanente, por isso, os mais fracos ficam pelo caminho. Ser comunista exige coragem, firmeza ideológica e uma vontade inabalável.
ResponderEliminarAntes de falar, o anónimo comentador, devia informar-se, pois iniciei a recuperação de uma votação que estava em queda acentuada. Procure os números e verá que não falou verdade a este respeito. Também não traí os eleitores quando me demiti da Assembleia de Freguesia, porque foi combinada com os outros elementos da CDU e foi um protesto contra as ilegalidades do PSD e contra a bancada do PS que optou por se aliar ao PSD. Na circunstância, era completamente impossível realizar qualquer trabalho na assembleia e a demissão tinha por objectivo desencadear uma intensa campanha de esclarecimento político que não foi avante por os colaboradores me terem falhado. Se quiser conhecer as razões, em pormenor, vá à Junta consultar a acta da altura e ficará melhor informado. Após isso, não precisa de me pedir desculpa por me apelidar de traidor. Os anónimos estão isentos de responsabilidade cívica.
No seu ataque esqueceu-se de referir que durante a minha permanência na Assembleia de Freguesia nunca houve, em Freamunde, tanta informação sobre a vida autárquica. Deve ser do seu conhecimento, que a CDU publicava um jornal intitulado “Nova Cidade de Freamunde”, onde dava conta aos freamundenses das suas posições, da sua actividade e de todos os acontecimentos da assembleia. Sobre democracia não é você que me vem dar lições.
Por último, chamo-lhe a atenção para outra inverdade: eu não andei a colher assinaturas por nenhum café para uma lista independente às eleições autárquicas, distribuí uma declaração de princípios e realizei uma reunião na Casa da Cultura, apenas. A intenção, dado que estávamos muito próximo das eleições e não haveria tempo para a constituição de uma lista, era a de chamar a atenção dos freamundenses para uma alternativa aos partidos a ser amadurecida para as eleições seguintes. Alternativa esta que continuo a considerar a melhor solução para Freamunde.
Não acredito que algum elemento da lista de candidatos da CDU faça uma aliança com o PSD.
Quem fala como você falou não é comunista.
Renato Magalhães