16 abril, 2011

Uma fábrica de ideias para Freamunde







Espremer o cérebro, como se espreme um limão, tirando dele todas as ideias possíveis, é o objectivo do brainstorming, mas sem violência, sem uso da força, antes com suavidade e prazer. A tradução literal do inglês dá “tempestade cerebral, ou de ideias”, mas nós preferimos chamar-lhe “emergência de ideias”, porque se trata de fazer emergir ao consciente as ideias que possuímos ou geramos sobre um determinado assunto, comunicando-as sem qualquer filtro censório, certos de que sendo elas geniais ou parvas ninguém as irá avaliar pelo prisma dos preconceitos vulgares.

Essencialmente, trata-se de um método de criatividade colectiva com o máximo aproveitamento da produção mental do grupo e na máxima liberdade individual.

Este método faz-nos recuar ao passado, por ter uma base profundamente democrática e recorda-nos as condições que permitiram o “milagre grego”, só possível por uma intensa e abundante troca de ideias. A liberdade é, portanto, condição indispensável ao desenvolvimento do pensamento.

A aplicação deste método às questões sociais e políticas de Freamunde traria indiscutíveis vantagens na forma de coesão social e abertura de amplos horizontes para o seu desenvolvimento. Lembremos que neste momento ninguém pensa Freamunde ou se preocupa com o seu estado calamitoso. Estamos no patamar inferior da nossa vida colectiva, bem patente no desprezo que algumas forças políticas lhe votam, com a Assembleia de Freguesia fechada e uma Junta em usurpação de poder.

Não há um órgão de comunicação social em papel que veicule opiniões, que incentive o debate. Na blogosfera o panorama pouco melhor é, preocupando-se demasiado com o passado, limpando e dando lustro às medalhas que Freamunde conquistou, mas fechando os olhos ao presente e não mexendo uma palha em direcção ao futuro.

Não há produção de ideias em Freamunde, como consequência não há acção. Quem quiser fazer uma visita às freguesias do concelho e ver o que eram e o que são, por comparação com Freamunde, verifica que todas cresceram, e algumas muito, e Freamunde está como um velho sentado à sombra a dormir de cabeça caída para a frente.

A sugestão do comentador A.A.C.M. de criar em Freamunde um ou mais grupos de brainstorming sobre a sociedade local é pertinente e seria magnífica se ocorresse o milagre da sua praticabilidade. Não podemos esquecer que as pessoas dão ao estômago cinco vezes mais trabalho do que seria necessário, metendo lá para dentro arrobas de comida e sacrificam o fígado com litros de álcool, toda esta azáfama com grande satisfação e alegria, enquanto que o cérebro é poupado ao extremo, não faltando por aí alguns ainda virgens, cérebros que nunca produziram uma única ideia. A crise, em Freamunde, também é cerebral.

Foi criada, há alguns anos, uma associação que, não tendo por base a prática do brainstorming, se destinava também à produção de ideias, sua divulgação e concretização. Ostentava o magnificente e histórico nome de “Fórum Freamundense” que, tal como a montanha da parábola, pariu um rato. De seguida, adormeceu da fadiga de tão laborioso parto e nunca mais acordou, deixando o filho morrer por falta de cuidados. A crise, em Freamunde, também é de vontade activa e bairrismo saudável, que de bairrismo doente estão as ruas e os cafés cheios.

Há uma outra crise, em Freamunde, de inteira responsabilidade partidária. A vida política e social está aquartelada em divisões sectárias e incomunicáveis, com os partidos a falar para dentro de si próprios, insensíveis à realidade e necessidades de Freamunde. Não há uma concepção e uma ideia dos interesses comunitários e do destino da terra. Não há comunicação entre os freamundenses e sem comunicação não há comunidade.

Freamunde é uma balbúrdia de gente a acotovelar-se no desenrascanço individual. Ninguém quer saber dos outros. Cada casta trata de si. Freamunde já não é uma terra comum a todos os seus habitantes, é um território de tribos rivais que se hostilizam entre si. Não existe separação dos interesses gerais da terra dos interesses partidários e particulares. Não há cidadania, mas há uma semelhança, cada vez maior, com uma gaiola de macacos em luta pelos melhores galhos. Não há evolução social, há involução de regresso à aldeia dos bugios. Brevemente lá chegaremos.

Fenomenalmente, surge alguém que propõe um esforço em prol de Freamunde. Depois das aparições de 1917, em Fátima, este é o maior milagre ocorrido em Portugal.

Vamos ver se pega.

Para ajudar à sua difusão, sugerimos o restauro da basílica do “Fórum Freamundense” para acolhimento dos crentes no ressurgimento de Freamunde. Estes propõem-se substituir a monocórdica e entorpecente oração pelo fabrico acelerado e diversificado de ideias com uma secção de produção de ideias originais e uma secção de reciclagem de ideias rotas e fora do prazo de validade.

Toda a matéria ideal é aproveitada.

As ideias com defeito e uma elevada percentagem de imbecilidade vão para a compostagem para serem transformadas em estrume que adubará sementeiras onde germinarão muitas ideias perfeitas, que farão as delícias do progresso de Freamunde. Esta proposta de brainstorming inverte a tendência em actividade actualmente, que é a de falência e encerramento da cidade caricata onde nos amontoamos como morcões em caixa de pescador.

Se alguns espíritos inconformados se sujeitarem, voluntariamente, ao esforço de porem o órgão mais preguiçoso do corpo humano a trabalhar, gratuitamente, para acender algumas velas nos sinuosos caminhos de Freamunde, devemos ajoelhar como os pastorinhos ante a azinheira mariana. Temos a salvação de Freamunde e a conversão do concelho de Paços de Ferreira ao dogma da fé. A eternidade fica por nossa conta.

Daqui, deste recôndito canto de Freamunde, clamamos por ampla liberdade para os obreiros do futuro. As cabeças pensantes são uma raridade aurífera, receber-lhes a riqueza é aumento de património. Se há gente que quer pensar, desse-lhes a oportunidade e as condições existentes, se melhor não há. Para início de funcionamento, por se enquadrar no ramo do pensamento activo, o “Fórum Freamundense”, auto-suspenso de todas as actividades, deverá promover uma sessão pública, ou entre os seus associados, para considerar a sua reactivação com quem estiver disposto a trabalhar.

Para finalizar, independentemente dos acontecimentos futuros e por se adaptar a todas as circunstâncias, o grafito inscrito na Rua da Torrinha, no Porto, por filósofo anónimo, é advertência de escuta permanente: “Não faças com o pensamento blocos de duro cimento.”  

Freamunde Livre

1 comentário:

  1. Em primeiro lugar e antes de mais consideracoes, PARABENS PELO POST.

    De facto nos tempos que correm, a preguica cerebral, esta a ser um dos mais serios cancros que corroem o desenvolvimento saudavel das comunidades e da sociedade em que vivemos.
    Para combater esta vaga de preguicosos, alguem inventou um veneno chamado OPINION MAKERS (comentadores,fabricantes de opiniao), especie de pessoas contratadas para que todos os outros nao percam tempo a PENSAR, eles pensam por elas.

    Com este tipo de venenosos contratados, a sociedade dos nossos dias, deixou o seu destino entregue nos pensamentos e retoricas das picaretas falantes, e passou a dedicar-se ao seu desporto favorito (PREGUICA MENTAL)com as consequencias que todos conhecemos.
    Com a invencao deste produto passamos apenas a crticar e reclamar, COISA MUITO MAIS CONFORTAVEL DO QUE PENSAR, DISCUTIR E REALIZAR.
    Os que hoje pensam pelos outros, estao tao convencidos da sua superioridade que se dao ao luxo de aplicar o ditado " OS CAES LADRAM E A CARAVANA PASSA ", e passa mesmo.

    Mas como acordar o povo do sono dos justos?

    Ja dizia o outro que se " MAOME NAO VIER A MONTANHA TEM QUE IR A MONTANHA A MAOME"

    Nunca ouvi falar do FORUM FREAMUNDENSE, mas com ele ou com outra SIRENE qualquer (por exemplo o regresso da RADIO ), VAI SER PRECISO PARA O BEM DE TODOS, POR O POVO A PENSAR,DISCUTIR,CRIAR CONSENSOS, INTERVIR E AGIR.

    FREAMUNDE TEM MASSA CRIATIVA E CONSTRUTIVA, A PARTIR DAQUI TEMOS QUE CONSTRUIR O FUTURO A SUA SEMELHANCA.

    A.A.C.M.

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